Fotos: Nathália Schneider (Diário)
A aposentada Claudete da Costa Soares, 66 anos, vai ao mercado regularmente e toda vez se impressiona com o preço do arroz. Em seu lar, partilhado com mais duas pessoas, um pacote de 2kg não dura um mês. A população sentiu a variação mais brusca do preço, que iniciou no ano passado, e segue até os dias atuais. Nos caixas de supermercados de Santa Maria, aqueles que escolhem por 1kg, pagam, em média, R$ 6,50. Se a escolha for pelos 2kg, chegam a pagar R$ 14. E no caso dos 5kg, desembolsam em média R$ 32.
A reportagem esteve em dois supermercados para mapear os preços e falar com a população. Em um deles, Claudete avaliava qual a melhor opção entre as marcas:
– Nos últimos tempos está muito caro. Pelo amor de Deus, temos até medo de vir no mercado de tão caro que estão as coisas. Faz muitos anos que está muito caro. A gente tem que estar escolhendo e diminuindo o consumo aos poucos.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
No monitoramento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o preço médio de 1kg do arroz branco passou de R$ 5,46 para R$ 7,11 no Rio Grande do Sul. A variação é entre a segunda semana de janeiro deste ano, com relação ao mesmo período do ano passado. Nos dias de hoje, está 30,22% mais caro.
A preocupação na hora da compra
Em 2023, o arroz acumulou uma inflação que chegou a quase 25%, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os preços sobem, mas o salário não. Esta é a reclamação da doméstica Ivonete de Souza, 52 anos. Ela ainda não comprou os 5 kg mensais de costume, mas logo terá que desembolsar o valor:
– Eu vou pela marca e a que eu compro é bem alta. Somos duas pessoas e dura um mês. E toda vez dói no bolso – ressalta Ivonete.
Na casa da atendente Vanessa Lopes, 34 anos, são necessários 10 kg por mês, pois são quatro pessoas na residência.
– Antes, acredito que os 5kg estavam na faixa dos R$ 22. Agora já está bem alto. Tentamos escolher pelo preço, porque nem há condições mesmo.
Motivos para o aumento
Há uma conjuntura interna e externa que contribui para o aumento do preço do arroz. O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, lista três principais pontos que influenciam diretamente – o momento de entressafra, ajuste no preço pago ao agricultor e, consequentemente, ajuste ao consumidor, na média de 18%. Acrescido a questões de exportação.
– Está terminando o arroz no mercado pelo período entressafra. Nós não começamos ainda a colheita no Rio Grande do Sul, e, no Mercosul, não tem mais oferta de arroz. Também houve o reajuste ao consumidor, e 1kg de arroz branco passou de R$ 4 e R$ 5, para R$ 5 e R$ 6. A exportação também ajuda a trazer preços melhores aos produtor.
Na avaliação dele, mesmo com o aumento, o arroz é um dos itens mais baratos da cesta básica, em comparação com a massa, feijão e farinha.
Valor médio em Santa Maria
- 1kg de arroz – Entre R$ 5,99 e R$ 7,49
- 2kg de arroz– Entre R$ 14 e R$ 14,99
- 5kg de arroz – Entre R$ 28 e R$ 34
Quando deve diminuir os valores?
O aposentado de 88 anos Deversino Pereira reclama, mas sabe que não tem muito o que fazer além de esperar baixar os valores. O que deve ocorrer assim que a safra 2023/2024 estiver circulando no mercado.
– Compramos sempre, e é caro sim. É um item fundamental, então tem que pagar o preço que tiver. Sorte quem tem como pagar – reclama o aposentado Pereira.
O presidente da Federarroz, Alexandre Velho, salienta que quando houver mais arroz disponíveis no mercado, o valor dos 5kg, por exemplo, pode reduzir para R$ 26. No entanto, a baixa não deve durar muito. Principalmente, após a redução da área de plantio e o item passar a ser vendido por um preço maior – sinônimo de valorização do agricultor, pela Federação. A orientação é que o consumidor se acostume com o patamar de preço atual.
Setor
Conforme o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), o Rio Grande do Sul é responsável por 70% da produção de arroz do Brasil. Para a atual safra, 2023/2024, a previsão é de uma área plantada de 903,68 mil hectares, em torno de 62 mil hectares a mais do que na última.
Em Santa Maria, o plantio foi praticamente concluído. O dado consta no boletim conjuntural da Emater/RS-Ascar, referente a primeira semana de janeiro.
A projeção para a safra 2023/2024, no município, está próxima a 120 mil hectares cultivados na região. Atualmente, 97% das lavouras encontram-se em fase de germinação e desenvolvimento vegetativo, e 3% estão em fase de floração.